Há tempo para tudo…

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Há um turbilhão de coisas na cabeça e todas merecem atenção especial nesse instante de catarse virtual. É preciso listá-las nos seus próprios tempos.

1 – Tempo de distanciar: Circe mia todos os dias com saudades dos seus filhotes que já foram doados. Aos poucos sua amizade com Medéia começa a se reaver, mas devido ao leite que ainda lhe enche as tetas, ela ainda mia muito (talvez pela dor!). É uma espécie de lamento, um canto plangente de mãe saudosa dos filhos. É dilacerador!!!

2 – Tempo de concluir: Finalmente terminei a leitura do The believers. Confesso que a leitura me deixou muito surpreso no final. Não consegui entender os reais motivos que levaram uma personagem tão maquiavélica como Audrey a tomar uma decisão tão terna e humana. Algo que me inquietou muito no livro foi a incompletude dos personagens, principalmente de Karla. Todos se sentiam vazios, sempre em busca de algo, em eterna transição…

3 – Tempo de retomar: Depois de muitos anos sem pintar, eis que finalmente resolvo me lançar à pintura à óleo novamente. Essa semana pintei uma réplica do Abaporu de Romero Brito. Uma pintura super moderna, colorida, tropical, com a cara da nossa casa e de nossos pensamentos antropofágicos. A falta de contato com os materiais por todo esse tempo me causou um certo estranhamento, principalmente pelo aroma nada agradável dos solventes e das tintas. Mas foi um momento sublime  ver o resultado ali, na minha frente se revelando sob a forma de cores e texturas. Um presente para a nova casa e a nova fase! A única questão nada agradável foi uma dor na coluna devido ao fato de não ter cavalete para colocar a tela. Fiquei dividido entre o chão e uma cadeira, mas nem isso impediu que a obra ficasse explêndida.

4 – Tempo de construir: Ando bem inspirado nesses dias… Tanto que depois de séculos sem escrever algo consistente, escrevi um poema chamado Insólito. Um poema mais que contemporâneo, bastante fragmentado, engajado… com ele estou concorrendo ao XIV FESERP, prêmio do qual fui jurado ano passado e promovido pelo Acauã Produções Culturais, grupo que admiro muito.

5 – Tempo de contemplar: Época de filmes. Longe dos cinemas (no sertão cinema é artigo de luxo) busco outras alternativas para estar conectado ao mundo dos filmes e tenho aprendido a controlar minha louca ansiedade vendo filmes longos. Não conseguia ficar uma hora vendo um filme e hoje consigo ficar um domingo inteiro vendo um atrás do outro. Aliás, não se consegue ter outra opção engrandecedora por aqui a não ser ver filmes e ler. Os programas que nos restam são escassos. Há peças no teatro mas de maneira muito esparsa e aleatória. Entre as opções de filmes temos visto todas as adaptações dos romances de Jane Austen e filmes brasileiros. Adorei ter revisto “A hora da estrela”, de Suzana Amaral. Foi um momento sublime ver Marcélia Cartaxo e José Dumont na pele de Macabéa e Olímpico. O filme consegue levar a essência da personagem de Clarice pra tela, feito muito complicado. Só me entristece ver um ator como José Dumont lutando contra vampiros em uma certa novela de mutantes. É vergonhosa a falta de incentivo à cultura nesse país.

6 – Tempo de refletir: Fim de ano! Odiável época em minha concepção! Detesto ter que refletir sobre as mil coisas que o ano trouxe ou deixou de trazer. Isso porque já sou um ser eternamente intimista e reflexivo. Sim! Acho o papai noel uma figurinha burguesa e capitalista e não consigo ver nele o verdadeiro espírito do Natal. O que me conforta nesse período é o carinho amigo, a (re)aproximação de pessoas estimadas, dos familiares… mas é abominável o fato de seres estranhos e alheios à nossa convivência se entranharem nas nossas vidas acreditando que são nossos “amigos secretos”. Eles sequer são amigos revelados, jamais secretos. E tudo se transforma num pretenso clima de alegria, satisfação, como se o mundo conseguisse sanar tudo de ruim enquanto enchemos nossas sacolinhas com roupas novas e panetones.

7 – Tempo de (re)ler: Assistindo ao programa do Jô nesta sexta dia 5, vi uma entrevista com os atores da nova série Capitu, a qual aguardo ansiosamente para ver. A Globo tem feito uma propaganda massiva e a série pareceu-me ter um ar bastante contemporâneo, embora a história se passe no século XIX. É a contemporaneidade de Machado. Que vontade de reler Dom Casmurro. Lembro-me de ter lido o livro pela primeira vez aproximadamente aos 15, 16 anos  e quão odiável achei aquele livro de linguagem chata e pouco envolvente. Jô falou algo que gostei de ouvir: os jovens não deveriam ler por obrigação! Um adolescente não tem maturidade pra Machado de Assis e acaba de maneira errônea abominando o livro pro resto da vida. Ainda bem que não entrei nesse rol, por que exatamente alguns anos depois voltei ao Dom Casmurro com outro olhar, já aluno de Letras e mais tarde me envolvi novamente com a obra do autor quando já professor de literatura. Vieram os Contos Fluminenses, Quincas Borba, Iaiá Garcia, Helena, Esaú e Jacó, Memórias póstumas… A ironia de Machado de Assis é hoje um pouco de mim e só depois de muitas leituras, assim como Maria Fernanda Cândido, eu percebi que Dom Casmurro é muito mais amplo que a possível traição de Capitu. É preciso ver com olhar bem mais profundo, é preciso penetrar além da superficialidade das letras no papel, é preciso revelar sentidos ocultos… Que venha a série!

8 – Tempo de semear: 2009 é tempo de tentar mais uma vez o doutorado. Não posso esperar 4 anos pra ser liberado pela instituição. Preciso agir antes que o tempo me trague. Hoje recolhi uma série de livros para ler e montar meu projeto. Sei que muita dor de cabeça ainda virá, mas preciso me antecipar para não correr o risco que corri em 2008 deixando tudo para última hora e fazendo um projeto indigno de aprovação.

9 -Tempo de decisão: amanhã a esta hora saberei o real destino de minha esposa na sua transferência de curso. Que o cosmos aja em favor dela e tudo dê certo na prova que ela fará. Torço para que o esforço seja válido.

10 – Tempo de respirar: Fim de ano é sinônimo de farturas, excessos, comidas e calorias a mil. E aí depois vem a culpa pelas gordurinhas ganhas, pelo colesterol e taxas altos. Estou cometendo meus mil excessos desde já por causa da comida hipercalórica daqui do sertão. O que tenho comido de torresmos, fava, mugunzá não está no gibi. E as cervejinhas de fim de semana?! (Meu Deus! Eu também bebo!!!) Hora de procurar solução: exercícios. Nada mais chato que ter que se readaptar a rotina de exercícios, alongamentos, cortes na alimentação… mas nada mais compensador que ver seu corpo entrevado se alongando, seus músculos flexíveis e seu corpo menos tenso. Tudo começa a ser mais equilibrado, menos estressante. Você começa a respirar melhor. Libera toxinas, sua à vontade, perde gorduras indesejadas logo. Mas é preciso ter algo que me é super difícil: disciplina. Sou um ser altamente indisciplinado, o que não quer dizer que seja desorganizado. Acordar cedo, ter que ir 4 vezes à academia religiosamente… Confesso que vou tentar! Está entre as promessas para 2009, que começo a cumprir ainda em 2008. Pior que ter que aturar toda essa rotina de exercícios é agüentar o monte de cérebros de azeitonas que encontramos pelas academias. Um bando de narcisistas, gente que resume a vida a um corpo e acha que sinônimo de felicidade é ter centímetros a mais de bíceps e abdômen sarado. Antes de sarar meu corpo malho meu cérebro, esse sim merece cuidado especial para que eu não me torne uma embalagem vazia. Que eu tenha forças para aturar certas figurinhas carimbadas. Pai, eles não sabem o que dizem. Definitivamente, não!

2 respostas em “Há tempo para tudo…

  1. Tentei acompanha-la mais fui deposto pela mesma mente que outrora sentava ao nosso lado em busca dos sonhos.Uma pena como sinto falta desses dias.Minha vinda aos seus me deram conta ……

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